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Dia Mundial Sem Tabaco: especialistas alertam sobre os riscos do tabagismo e uso de cigarros eletrônicos

Todos os anos o dia Mundial Sem Tabaco é promovido em 31 de maio, com o objetivo de alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. As campanhas e a legislação antifumo têm tido impacto positivo no Brasil, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), reduziu o número de fumantes em 40%. Porém, o futuro ainda é um desafio e os novos modelos do uso de nicotina, como os vapes ou “pods”, preocupam os especialistas. Veja mais abaixo detalhes sobre o tabagismo e o câncer de pulmão, além de benefícios de parar de fumar.

Nesta data, o A.C.Camargo Cancer Center reforça a necessidade da conscientização sobre os danos causados por qualquer forma de tabagismo e a importância de preservar vidas. Para o Líder do Centro de Referência em Tumores de Pulmão e Tórax, Jefferson Luiz Gross, é preciso traçar um paralelo entre a história do cigarro comum e a do eletrônico.

Gross explica que é preciso traçar um paralelo entre a história do cigarro comum e a do eletrônico. “Nas primeiras décadas do século XX, os médicos recomendavam o tabaco para tratar ansiedade e depressão, por exemplo. Em curto prazo, não havia tantos efeitos. Demorou cerca de 40 anos, mais ou menos, para conhecer a dimensão dos problemas causados pelo cigarro”, explica.

Da mesma forma, o impacto real dos cigarros eletrônicos somente será visto de forma concreta a longo prazo. Porém, alguns dados já alertam sobre os danos provocados nos usuários: o vapor com nicotina do aparelho pode produzir formaldeído, substância que o torna de 5 a 15 vezes mais cancerígeno que o cigarro comum.

Para aqueles que buscam no vape uma forma de parar de fumar, Jefferson Luiz Gross reforça que há outras maneiras mais seguras de auxiliar no combate ao vício. “O adesivo de nicotina, a goma de mascar e o spray nasal, associados a medicamentos e acompanhamento médico, são formas seguras e recomendadas para ajudar no combate ao tabagismo”, defende.

Vale reforçar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil.

Epidemia do tabaco

Apesar de ser um dos mais letais, o câncer de pulmão é uma doença evitável: 90% dos casos estão associados ao tabaco.

Conforme a OMS, a epidemia da substância é uma das maiores ameaças à saúde pública que o mundo já enfrentou e é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano. Dessas, mais de 7 milhões resultam do uso direto do produto e cerca de 1,2 milhão é resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.

“Quem não fuma, mas convive com um tabagista, tem o risco de desenvolvimento da doença elevado em 30% na comparação com uma pessoa que não seja fumante passivo”, explica Gross.

Segundo o Observatório do Câncer, um registro inédito do A.C.Camargo Cancer Center que reúne dados minuciosos dos casos de câncer tratados na instituição entre os anos 2000 e 2020, o câncer de pulmão está entre as dez neoplasias malignas mais comuns, tanto no sexo feminino quanto no masculino. Ao todo, foram 3.582 casos registrados.

Na maioria dos casos, os sintomas do câncer de pulmão aparecem apenas quando a doença já está avançada. Por isso, a minoria dos casos é diagnosticada em fase inicial. Apesar de ser uma doença agressiva, atualmente existem recursos para o tratamento.

Ainda de acordo com o Observatório do Câncer, foi identificado um aumento significativo da sobrevida global em 5 anos nos casos da doença tratados no A.C.Camargo. Conforme a instituição, nos primeiros quatro anos da pesquisa (2000-2004), a sobrevida nos homens era de 10,4%. Já nos anos finais (2015-2017), esse valor foi para 51,1%. Para as mulheres também houve acréscimo, a sobrevida inicial era de 18,8% e chegou a 59%.

Benefícios de parar de fumar

Os benefícios de parar de fumar começam de imediato. Veja a tabela abaixo em períodos sem o uso do tabaco.
 

PERÍODO SEM FUMARBENEFÍCIOS
20 minutosDiminui a frequência dos batimentos cardíacos. Temperatura dos pés e das mãos se elevam.
8 horasDiminui a quantidade de monóxido de carbono e aumenta a de oxigênio no sangue.
24 – 48 horasMelhora o olfato e o paladar.
2 semanas a 3 mesesMelhora a circulação sanguínea.
1 a 9 mesesRedução da tosse, congestão nasal, cansaço, falta de ar e risco do surgimento de infecções respiratórias.
1 anoRedução pela metade do risco de ataque cardíaco.
5 anosRedução da possibilidade de desenvolver câncer de pulmão, boca, garganta e esôfago. O risco de um derrame cerebral passa a ser próximo ao de quem nunca fumou.
10 anosO risco de sofrer um infarto passa a ser próximo ao de quem nunca fumou.
20 anosO risco de desenvolver câncer de pulmão passa a ser próximo ao de quem nunca fumou.

Fonte: A. C.Camargo Cancer Center

Tabagismo aumenta riscos de câncer de boca e de contaminação e agravamento da Covid 19

Especialista alerta sobre o uso de novos tipos de cigarros de uso compartilhado como o narguilé e o cigarro eletrônico

Os brasileiros passaram a consumir mais cigarro durante a pandemia da Covid-19. De acordo com pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), feita em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Estadual de Campinas, cerca de 34% dos que se declararam fumantes passaram a consumir mais cigarros por dia durante o período de isolamento social.

Os fumantes também podem ficar ainda mais expostos ao contágio pelo coronavírus, já que o constante manuseio do cigarro com as mãos e o possível contato com a boca, além da necessidade de tirar a máscara para fumar, podem aumentar a possibilidade de contágio pelo vírus. Além disso, o estudo publicado no dia 29 de dezembro pelo periódico Thorax, com mais de 2,4 milhões de participantes no Reino Unido, indica que os fumantes eram 14% mais propensos a terem sintomas clássicos e evidentes da Covid-19 (tosse persistente, falta de ar e febre) do que os não fumantes.

Ely Pineiro/Getty Images

Diante desse número preocupante, campanhas de conscientização sobre os riscos do cigarro e do tabagismo para a saúde, principalmente durante a pandemia, passaram a ganhar mais relevância e devem pautar o Dia Mundial do Combate ao Fumo, celebrado hoje, 31 de maio. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), cerca de 443 pessoas morrem por dia por causa do tabagismo.

A pneumologista Fernanda Miranda, que atende no Órion Complex, alerta que não existe alternativa saudável para a prática do tabagismo. “Os cigarros eletrônicos, que são apresentados como uma alternativa ao fumo, são também compostos por nicotina e causam dependência da mesma maneira. Outro que pode ser tão ou até mais prejudicial para a saúde é o narguilé. Cada sessão deste instrumento corresponde a 100 cigarros fumados”, detalha Fernanda Miranda. Além disso, o compartilhamento de narguilés é um fator muito preocupante pois também pode contribuir para a disseminação do vírus.

A pneumologista alerta que o cigarro pode causar mais de 50 doenças e, do ponto de vista pulmonar, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e o câncer de pulmão são as mais frequentes. Esta última neoplasia teve a terceira maior incidência entre homens em 2020, segundo o INCA, com quase 18 mil ocorrências (7,9% dos novos casos) e foi a quarta com mais incidência entre as mulheres, com mais 12 mil casos (5,6%).

Combate ao tabagismo

De acordo com a pneumologista, apesar das campanhas e das restrições impostas aos fumantes, principalmente em espaços públicos, ainda há pessoas que começam a fumar por curiosidade, principalmente os mais jovens. “Depois disso, muitos fumantes encontram dificuldades em parar de fumar pelo fato de a nicotina ser uma droga com alto poder de levar à dependência química. Ela atua no cérebro e quanto mais se usa, mais difícil é de se deixar o vício”, destaca a especialista.

Ações feitas pelo Ministério da Saúde têm contribuído para o controle em relação ao fumo. Uma delas é o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), por meio do INCA, que busca reduzir a prevalência de fumantes e a mortalidade relacionada ao uso de tabaco por meio de ações educativas e de atenção à saúde. Segundo Miranda, essas ações são importantes para que o país continue sua busca por reduzir ainda mais os números relacionados ao tabagismo.

Ela ainda ressalta que a ajuda multiprofissional formada por médicos e terapeutas pode ser eficaz para o tratamento contra o fumo. “O suporte psicológico, terapia cognitivo comportamental e tratamento medicamentoso são importantes aliados no tratamento do tabagismo”, destaca Miranda.

As ameaças disfarçadas do tabagismo para a sua saúde bucal

70% das pessoas com câncer de boca fumam e o problema não está só no cigarro industrializado

Maio é o mês marcado pela luta contra o fumo, graças ao Dia Mundial sem Tabaco (31/5). Essa é uma das principais datas no calendário da Saúde e da Odontologia, uma vez que o tabagismo aumenta e muito o risco de câncer de boca, um dos tipos mais comuns entre fumantes – 70% das pessoas com câncer de boca fumam, revela o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Diante desse cenário, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp) faz um alerta para os ‘novos cigarros’, opções mais atraentes do que o industrializado, mas que escondem grandes perigos. São os narguilés, os vapes – cigarros eletrônicos – e até as versões disfarçadas de naturais, com camomila, sálvia, jasmim ou essências de sabor, em que o próprio fumante prepara o cigarro.

“Não existe consumo seguro de tabaco. Se tem tabaco, sempre tem o risco, pois são as substâncias que estão nele que prejudicam a saúde bucal e, consequentemente, o corpo em geral. Nicotina, alcatrão, monóxido de carbono e até a fumaça e o calor geram danos à mucosa da boca”, avisa a cirurgiã-dentista Silmara Regina da Silva, integrante da Câmara Técnica de Estomatologia do Crosp.

São poucos os estudos que abordam os diferentes formatos, mas já se sabe, por exemplo, que “uma hora de cigarro eletrônico equivale a 10 cigarros convencionais fumados”, explica o presidente da mesma Câmara Técnica do Crosp, Fábio de Abreu Alves. A comparação é importante, pois as versões eletrônicas chamam a atenção por emitir menos fumaça e pela discrição, já a ameaça está na alta concentração de nicotina, provocando a dependência de forma mais intensa.

Mas, até o surgimento de problemas, existe um caminho: dos menos graves, como manchas nos dentes e doenças periodontais, ou seja, que afetam os tecidos de suporte, levando, muitas vezes, à perda de dentes e ao insucesso dos implantes dentários; até os de maior complexidade, sendo o câncer de boca o mais preocupante. Ainda segundo o Inca, a estimativa é de que 15 mil pessoas tenham desenvolvido a doença em 2020 no Brasil, além das mais de 6,6 mil mortes registradas em 2019.

Esse percurso do tabagismo no corpo é silencioso e aumenta em até oito vezes o risco de uma pessoa desenvolver câncer de boca em relação a quem não fuma. “A doença é mais comum a partir dos 40 anos porque o tempo e a quantidade ingerida são fatores que influenciam. Mas, dependendo da suscetibilidade da pessoa, uma quantidade pequena já pode desencadear o câncer”, afirma Silmara. “Os sinais surgem em feridas que não cicatrizam por mais de 15 dias, manchas vermelhas ou esbranquiçadas e nódulos (caroços) em qualquer região da boca: língua, gengiva, bochecha ou palato (céu da boca), por exemplo. Ao notar um desses sintomas, é preciso procurar imediatamente por um serviço de Saúde”, enfatiza.

Por não existir consumo seguro, também não há meios de prevenir os efeitos do cigarro na cavidade oral. “Nenhum cuidado com higiene bucal pode evitar os riscos trazidos pelo tabaco. Contudo, bons hábitos como a correta higienização, o consumo de frutas e vegetais e a periodicidade das consultas com o cirurgião-dentista são fundamentais para fazer o diagnóstico precoce e tratamento das possíveis alterações”, conta Silmara.

Alves recomenda que as visitas dos fumantes ao consultório sejam de duas a três vezes por ano. “O câncer de boca na fase inicial, em geral, não tem sintomas, por isso é tão importante a avaliação da cavidade oral por exames odontológicos. O diagnóstico precoce oferece 90% de chance de cura. No diagnóstico tardio, essa chance diminui para 50%”.

O enfrentamento à dependência

O tabagismo é uma doença crônica de dependência química da nicotina, presente no tabaco, e faz parte do grupo de transtornos mentais e comportamentais pelo uso de substância psicoativa, conforme a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).

“O Brasil é o segundo país no mundo, depois da Turquia, a promover um modelo exitoso de implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (primeiro tratado internacional de saúde pública, assinado e ratificado por 181 países), um conjunto de medidas que permite o enfrentamento ao tabagismo. Isso possibilitou uma queda significativa na prevalência da doença, mas há muito a ser feito”, fala a coordenadora Estadual do Programa Nacional de Controle de Tabagismo de São Paulo, pelo Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), e integrante da Comissão de Políticas Públicas do Crosp, Sandra Marques.

No ano passado, com o desafio da pandemia do novo coronavírus e o agravamento das condições de saúde mental, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha Comprometa-se a parar de fumar durante a Covid-19 para o Dia Mundial sem Tabaco de 2021. “O cirurgião-dentista tem papel fundamental na estratégia de ampliação das ações de enfrentamento ao tabagismo e integralidade do cuidado. Assumir esse protagonismo perante um grave problema de saúde pública nos remete à concepção do papel que exercemos enquanto profissionais de Saúde. Precisamos desmistificar a dependência química e entendê-la como patologia para tratá-la”, completa.